segunda-feira, 28 de novembro de 2011

AS BORBOLETAS AZUIS

Um dia quando eu ainda era menina, estava em férias na casa de meus avós na fazenda.Eu gostava de levantar cedo para aproveitar bem o dia,levantava junto com a vovó para sentir o amanhecer no campo, no pomar em meio as arvores altas das laranjeiras antigas poder ouvir o canto dos pássaros, o cheiro das flores, a fumacinha saindo no balde de água puxado do poço.

As abelhas nas flores do mamoeiro carregado,de mamões ali perto do poço , uns madurinhos e outros verdes, as sabias comendo um deles num buraquinho feito por elas, o cavalo conversando em sua linguagem com meu avô querendo comer milho no paiol as galinhas disputando as espigas com eles no cocho, para mim tudo era magico, a felicidade morava ali e eu podia toca-la.

Anoite tinha sido longa demais, como toda criança com  medo de trovões, tinha caído uma grande tempestade com granizo e tudo, a ventania nos assustava com suas rajadas violentas, a natureza estava furiosa. E pela manhã o sol brilhava como ouro saindo de trás do morro, e no meio ao gramado dos pastos ainda havia muitas pedrinhas de gelo,que demoraram pra derreter.

Logo depois do café da manhã o meu avô me convidou para ir até o serrado com ele buscar uns cipós para fazer medicamentos, serrado é o nome que ele dava a mata fechada, serrada em grandes arvores de madeira de lei. Meu avô era meio médico naturalista da região, profundo conhecedor do livro grosso do Dr. Almeida Prado. Ele também preparava umas gotinhas de essência de plantas  em água potável que chamava de doses, estas ele mandava vir da capital de São Paulo, que curava todas enfermidades, de quem o procurava, e nunca cobrava nada.

Fomos para a grande mata nativa pelos caminhos arenosos da roça, cheio de poças d'água, ele me contava a idade de cada árvore centenária que havia ali desde o tempo dos escravos, falava sobre as madeira de lei o seu cheiro, o para que serviam coisas de avô,ao chegar amaramos o cavalo na beira do caminho, e entramos mata a dentro, era ensurdecedor o gorjear de tantos pássaros juntos, espécie e cores diferentes voando no frescor da mata, era tudo um encanto, o cheiro da mata as flores em cachos nos cipós sobrepondo as arvores, em certos lugares faziam portais, como conto de fadas eu passava por eles ,em outros lugares parecia renda colorindo as ramagens das majestosas arvores os colibris trinavam em todo lugar num bailado de alegria, ficamos ali contemplando aquela grande festa, sentindo o imenso perfume da terra molhada , flores e ozônio das arvores. As orquídeas bem no alto em flores,fomos andando bem devagar em cada lugar um trinar de novo pássaro.

As folhagens balançavam calmamente ao canto do vento calmo,molhando nos com gotas de orvalho geladinho, que acariciavam nosso rosto, e eu observava um sorriso no rostinho querido do meu avô,que ficava tempo a olhar para o alto,com ternura tocava as  arvores, parecia toca-las com o coração, com a mão espalmada em seus trocos parado admirava sua majestade em silencio´.

Chegamos num lugar no coração da mata, como ele chamava, ali as folhagem e ramas fechavam só havia uma clareira que dava para ver o azul do céu. Ele me disse .-É aqui que falo com Deus, venho aqui sempre para orar e olha aquela janela la encima, mostrando para a clareira que mostrava o céu, eu acredito que o Senhor me espera pra conversar na janela do céu.

Vovô pegou em minhas mãos e disse vamos falar com Ele e pode ter certeza que esta nos vendo,eu sorri e meu avô tirou seu surrado chapeuzinho de palha  da cabeça, jogou no chão, ficamos em silencio falando com Deus em espirito, eu só sabia agradecer por tudo, por ele ter feito aquele lugar, aquilo que via e por ter  aquele avô com alma de anjo, e ter me colocado ali.

Ficamos ali um tempo falando com Deus, parecia que nunca mais queria sair daquele estase, era mágico e sagrado. Quando terminamos a oração beijei as mãos cansada e queimada do sol do meu querido avô, entre as grandes raízes das arvores meu avô removeu as folhas secas e me mostrou, o chão estava branquinho de quilos de pedrinhas de gelo,ele disse.- Olha que Deus reserva para sua natureza se refrescar, molhando as raízes com água fresca por muito tempo, eu na minha meninice via Deus um grande magico.De repente uma grande borboleta azul turquesa cruzou nossa frente eu achei encantadora  e o meu avô disse.-São lindas eu as chamo de anjos, elas sempre apreciam minhas orações, e logo outras apareceram voando lentamente no seu azul cintilante, eu disse.- Olha outras e meu avô disse .-Chiou fale baixinho, para não quebrar a pureza deste santuário

Aqui começa o céu, sentamos e ficamos ali mais um tempo apreciando o vibrar da harmoniosa natureza como Deus a fez, sem ninguém tocar, foi um momento único inesquecível.

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